Civis têm sido vítimas de inúmeras
violações, como esquartejamentos, estupros coletivos e enforcamentos. Em um dos
casos relatados à equipe da ONU, uma mulher foi amarrada a uma árvore e forçada
a ver sua filha de 15 anos ser estuprada por dez soldados.
Um novo
relatório do Escritório do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) revelou
episódios “horrendos” de crimes cometidos contra a população no Sudão do Sul e,
em especial, por forças do governo. Para a agência da ONU, há motivos
suficientes para considerar violações como “crimes de guerra” e “crimes contra
a humanidade”.
O
documento descreve casos de esquartejamento, de estupros coletivos e de civis
sendo queimados vivos. De abril a setembro de 2015, mais de 1,3 mil casos de
estupro foram relatados em apenas um dos dez estados do país, Unity, a
província rica em petróleo.
Além
dessas violações, civis a favor dos grupos de oposição também têm sido vítimas
de outras atrocidades: são pendurados de árvores para morrerem enforcados,
sufocados em contêineres, fuzilados ou obrigados a ver parentes sendo
assassinados e violentados.
Uma
mulher foi despida e estuprada por cinco soldados diante de seus filhos na
beira de uma estrada e depois, em meio a arbustos, por outros homens. Quando o
abuso terminou, suas crianças haviam desaparecido. Outra moça foi amarrada a
uma árvore depois de testemunhar a morte do marido e teve que ver sua filha de
15 anos ser violentada por dez soldados.
Crianças
têm sofrido o “peso” do conflito, sendo mortas, recrutadas para o combate,
mutiladas ou abusadas, segundo a missão do ACNUDH que produziu o relatório após
visita ao Sudão do Sul, de outubro de 2015 a janeiro de 2016.
O
cenário do país levou o chefe de Direitos
Humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al Hussein, a afirmar que mulheres e meninas são
tratadas como “mercadorias” pelos soldados que se deslocam entre as cidades da
nação africana.
Para
o secretário-geral assistente da ONU para Direitos Humanos, Ivan Šimonović, é
preciso romper um ciclo de violência que se desenvolve historicamente. “O
estupro é aceito” e acontece na presença de membros das famílias, destacou o
dirigente, que disse ter visto mulheres serem forçadas a andar nuas pelas ruas,
durante viagem pela nação africana.
Apesar
de ser uma das “mais horrendas situações de direitos humanos do mundo”, crise
não tem recebido atenção internacional, alertou Al Hussein.
Governo é maior
responsável por violações cometidas em 2015; massacres são cometidos segundo
motivos étnicos
Embora
todas as partes do conflito, que começou em 2013, tenham cometido atos graves
de violência sistemática contra civis, incluindo agressões sexuais, detenção
arbitrária, sequestros, privação da liberdade e desaparecimento forçado, “a
maior responsabilidade durante 2015” recai sobre agentes do Estado, devido ao
enfraquecimento das forças de oposição.
Sempre
que uma região muda de controle entre as entidades em guerra, os encarregados
matam ou deslocam o maior número possível de civis, baseando-se em princípios
étnicos.
O
governo do Sudão do Sul tem praticado a tática da terra arrasada, devastando
propriedades e meios de subsistência das cidades ocupadas por seu exército
assim que o local é invadido por grupos rivais.
Crianças
buscam abrigo num centro para proteção de civis na cidade de Malakal, atacada
em fevereiro. Foto: ONU / Isaac Gideon
O
relatório do ACNUDH recomendou que o Governo Transitório de Unidade Nacional
deve impedir as violações assim que conseguir se estabelecer no país. O
documento aconselha ainda a criação de tribunais híbridos, compostos por
nacionais e estrangeiros, para julgar os crimes e garantir a responsabilização
dos culpados.
Para
o coordenador da missão da ACNUDH que visitou o país, David Marshall, líderes
militares envolvidos nas atrocidades não devem integrar o Governo Transitório.
- ONU vai investigar
se resposta da Missão de Paz foi adequada em conflitos recentes, na cidade de
Malakal
No
mesmo dia em que o relatório do ACNUDH foi divulgado, as Nações Unidas
anunciaram a abertura de um inquérito independente para apurar como integrantes
da Missão da ONU no Sudão do Sul (UNMISS) reagiram aos conflitos que ocorreram
em fevereiro, na cidade de Malakal.
O
objetivo é determinar se as tropas conseguiram proteger civis que buscavam
abrigo em bases da Missão, durante os ataques.
A
vice-chefe humanitária da ONU, Kyung-wha Kang, visitou o local uma semana
após os ataques e recebeu informações de que uma parcela da população foi assassinada
e outra foi traumatizada e deslocada mais uma vez, após o centro para civis ter
sido completamente queimado e destruído. Escolas e clínicas também foram
arrasadas.
A
Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) ressaltou também na sexta-feira (11) que
confrontos recentes no estado de Equatoria Ocidental levaram mais de 11 mil
pessoas a fugir do Sudão do Sul para a República Democrática do Congo, e outras
14 mil a buscar abrigo em Uganda. Estimativas indicam que cerca de 7 mil
sul-sudaneses vivem como refugiados também na República Centro-Africana.
Fonte:
nacoesunidas.org
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