A vida em Juba, capital do Sudão do Sul:
investigação da União Africana revelou os horrores vividos pela população desde
que a guerra civil estourou em dezembro de 2013.
Um explosivo relatório divulgado nesta
semana pela União Africana (UA), organização regional que integra 52 países,
trouxe à tona os horrores vividos pela população do Sudão do Sul desde o início da guerra civil em dezembro de
2013. Foram evidenciados casos de estupros, mutilações e até canibalismo forçado.
A comissão
responsável pela investigação, e que é liderada pelo ex-presidente nigeriano
Olugesun Obasanjo, informou ter encontrado provas razoáveis de que tanto as
tropas do governo quanto os rebeldes tenham cometido crimes e violações de
direitos humanos.
Foram documentados
atos de “crueldade extrema” que envolvem a violência sexual e até casos nos
quais pessoas foram forçadas a consumir o sangue e comer a carne queimada de
membros de seu grupo étnico. As alegações, explica o documento, foram
compiladas a partir de relatos de testemunhas desses crimes em Juba, capital do
país.
A maioria das
atrocidades continuou o documento, foram cometidas contra a população civil que
não estava envolvida nas hostilidades. “Locais religiosos e hospitais foram
atacados, a ajuda humanitária foi bloqueada, cidades queimadas e saqueadas e há
testemunhos que mostram o recrutamento militar de crianças com menos de 15
anos”.
E mais: a
investigação constatou que a violência no país, que já dura quase dois anos, se
originou de uma confusão na guarda presidencial e não de uma tentativa de
golpe, conforme denunciado pelo governo de Salva Kiir
na época.
- Guerra Civil
O Sudão do Sul
conquistou a sua independência do Sudão em 2011, após anos de uma violenta
guerra. Um governo interino foi instaurado em seguida e que contou com Salva Kiir
na presidência e Riak Mashar, seu antigo rival político, como vice.
A tensão entre os
dois, revela o relatório, atingiu novos níveis quando em julho daquele ano Kiir
dispensou seu vice e vários ministros. Como resposta, Mashar anunciou que
disputaria a presidência do país nas eleições de 2015.
Em dezembro, a
violência estourou entre soldados da guarda presidencial e a instabilidade
tomou conta do país desde então. O conflito político logo foi permeado por
tensões étnicas, uma vez que os dois maiores grupos do Sudão do Sul, os Dinka e
os Nuar, se posicionaram de lados opostos. Enquanto os Dinka apoiam Kiir, os
Nuar lutam com Mashar.
Neste ano, as
eleições que deveriam ter acontecido em março foram empurradas para 2018 e o
mandato de Kiir foi estendido. Meses depois, em agosto, Kiir e Mashar assinaram um frágil cessar fogo pressionados por
parceiros comerciais e pela ONU. O acordo apaziguou os ânimos, mas não sufocou
por completo os confrontos entre governo e rebeldes.
Desde então,
estima-se que esse conflito tenha deixado mais de 50.000 mortos e deslocado
internamente 2,2 milhões de pessoas. O Sudão do Sul é hoje o país do mundo que
enfrenta a mais grave crise de fome, crise essa que afetou 4 milhões de
pessoas, um terço da sua população.
Fonte:
exame.abril.com.br
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