Os
combates intensificaram-se entre as forças leais ao Presidente Kiir e as que
apoiam o ex-vice-presidente Machar. Entre os 272 mortos, 33 são civis.
O vice-presidente Riek Machar (esquerda) e o Presidente Salva
Kiir; os dois disputam o poder
Combates violentos,
civis mortos, centenas de pessoas a procurarem refúgio num campo das Nações
Unidas na periferia da cidade — é o retrato feito pelos jornalistas em Juba, a
capital do Sudão do Sul, onde este domingo se travam combates violentos entre
as forças fiéis ao Presidente Salva Kiir e as milícias do vice-presidente Riek
Machar.
Neste ambiente a
auspiciar o regresso à guerra civil, o
país celebrou, cinco anos de independência. Em quatro dias —
desde quinta-feira — morreram 272 pessoas, 33 delas civis, segundo disse fonte
governamental à AFP.
A fonte, que se
manteve anónima, disse que, este domingo, houve "intensa troca de
tiros". Muitos habitantes fugiram para o campo da ONU que alberga gente
deslocada devido aos três anos de guerra civil (dois milhões, no total) e gente
que ali se abrigou devido à grave crise humanitária — um terço de uma população
de menos de 15 milhões de habitantes depende de ajuda
alimentar de emergência.
No vizinho Quénia, o
Governo apelou a Kiir e Machar para porem fim à crise e afastarem as suas
tropas dos civis. Um porta-voz do Governo sul-sudanês diria, em resposta, que
"a calma" regressara à cidade e que a situação estava
"controlada" — "de momento", acrescentou o ministro da
Informação, Michael Makuei, numa declaração ao país via televisão. O ministro
pediu à população para se manter dentro de casa.
O conflito no Sudão
do Sul é sobre o poder, e
trava-se entre Kiir e Machar, afastado no final de 2013 e acusado de preparar
um golpe de Estado. Divididas as espingardas, começou uma guerra civil que
matou 300 mil pessoas, fez dois milhões de deslocados e terminou sem nunca
terminar — foi assinado
um acordo de paz em 2015, que nunca foi
integralmente cumprido, com os confrontos entre os dois lados a subirem de
intensidade até à data deste quinto aniversário, quando foi assumido o combate
aberto entre os dois exércitos em Juba.
Os combates deste
domingo travaram-se sobretudo em dois bairros de Juba, Gudele e Jebel, que
ficam próximos dos quartéis das tropas que se mantiveram fiéis a Machar, relata
a Reuters.
"Durante 30 a 40
minutos, ouvimos o som de artilharia vindo do lado de Jebel", testemunhou
um habitante da cidade que não quis dar o nome. Outro, Daniel Samson,
testemunhou o que descreveu como "êxodo maciço" nos bairros
atingidos. Uma terceira testemunha, Steven, disse ter visto centenas de pessoas
a ir para a zona das Nações Unidas "Vi corpos de civis caídos na rua e vi
gente ensanguentada", disse Steven.
O porta-voz das
forças de Machar, William Gatjiath Deng, disse que as forças governamentais
atacaram a sua base em Jebel. "Fomos atacados por três helicópteros",
disse.
A Reuters dizia que
não estava a ser fácil falar com responsáveis da missão da ONU o país, a
UNMISS, neste domingo. Mas o jornal The Guardian conseguiu um depoimento de um funcionário:
"As condições são muito, muito más. Temos muitos feridos. Penso que entre
50 e 60 pessoas, além dos de ontem", disse esta fonte que pediu para se
manter anónima. "Temos civis mortos e temos pessoas que estavam [no campo]
e que têm ferimentos das granadas que caíram cá dentro e que feriram oito
pessoas".
Outra testemunha
disse ter visto soldados — não sabia de que lado — a pilharem lojas.
Não está claro o que
fez eclodir esta vaga de violência. Na sexta-feira, o tiroteio começou no
momento preciso em que Kiir e Machar iam dar uma conferência de imprensa
conjunta para pedir calma às tropas e à população, depois das mortes da
véspera. Não souberam explicar o que tinha motivado a violência — o que levanta
receios de não terem mão nas suas tropas.
Segundo a Reuters, os
tiros começaram quando soldados do exército de Kiir tentaram revistar veículos
que levavam homens de Machar.
Fonte:
publico.pt
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